sábado, 12 de fevereiro de 2011

Chalera#02

Luz, tudo que enxergava era luz. Poucas vezes foi tão difícil abrir os olhos. Também, depois da última noite, era de se espantar que os olhos ainda abrissem.

- Mas que merda! Pelo jeito ainda estou vivo. Jurei que não ia passar desse porre. Que noite foda.

Chalera estava de saco cheio, toda aquela sociedade que não sabia aproveitar a vida, aquele saco de bosta que era a televisão. Não dava mais. Só era feliz bêbado, e olhe lá, não se sabe se podia chamar aquilo de felicidade.

Levantou, afinal não tinha sido dessa vez, conseguia se lembrar de ter entrado em um puteiro, depois de estar completamente bêbado. Não conseguiu falar o próprio nome pra puta que tinha escolhido. Entrou no quarto, deitou na cama, esperou ela tirar a roupa, e dormiu. Acordou num hospital, cheio de vomito na própria camiseta, no próprio corpo. Não conseguia lembrar como tinha saído de lá, só sabia que não tinha mais um centavo na carteira. O pessoal do hospital chamou sua irmã mais nova, Kelyn. Nunca entenderá o porquê desse nome ridículo, com um “y” enfiado no meio. Deveria ser ódio dos pais.

Ela o odiava, ele não sentia nada por ela. Sabia que ela tinha levado ele para casa, mas não conseguia lembrar como. Enfim, uma noite espetacular. Cerveja, Whiskey nacional, o mais barato, duas carteiras de cigarro. Nenhum suicida poderia colocar defeito. E no fim, um corpo quente pra ele olhar, quem dera fosse a ultima visão da sua vida. Mas não foi.

Cortou a parte do pão que estava mofada, passou um resto de geléia, comeu. O estomago não aceitava, correu pro banheiro, não deu tempo, vomitou no corredor mesmo. Só saia bílis, que ele carinhosamente chamava de suco de bucho.

- Porra cara, eu já aprendi não faz isso comigo. Não, não, não, na... aaargh!

A casa cheirava a álcool e vomito, tudo cheirava assim, até o ar. Decidiu fumar um cigarro pra melhorar, do jeito que tava não dava pra ficar. Já eram 4 da tarde, quando chegasse a noite ele tinha muita vodka para beber. Decidiu subir o nível da bebida, ouviu falar em algum lugar que cachaça deixava cego, ele não queria ficar cego.

Dormiu por mais cinco horas.

Luz, de novo a luz, mas agora ele sabia que não estava morto. Sabia também, que não tinha se apresentado devidamente praquela rameira da zona. Calibrou a consciência, tomou um banho pra tirar o cheiro de vomito e saiu.

Ia dar para aquela puta uma noite que ela nunca ia esquecer.

Chegou na zona, foi falar com a dona do local, deu a descrição.

- Ah, a Dani, não, ela se deu bem. Ontem chegou um cara aqui, tava mamado. Levou ela pro quarto, não fez nada e deu uma gorjeta pra ela. Deu 500 paus. Da pra acreditar? Que otário, ela cobra 30 por programa, completo. Aproveitou pra tirar a noite de folga, já que ganhou quase a grana de uma semana e meia trabalhando aqui.

- Obrigado moça, eu volto outro dia.

- Nenhuma outra serve não?

-Não, de repente me bateu uma depressão, vou pra casa.

- Tu que sabe, a noite recém começou.

É, aquela não era a noite dele, não podia ser.

Paciência, um dia é da caça, o outro do caçador. Ele não entendia porque se sentia sempre como caça, mas nunca era a vez dele. Fazer o que? Ainda tinha um bom meio litro de vodka em casa, decidiu que era melhor pegar leve, iria misturar com água tônica. Aí se lembrou que tinha gasto 500 paus com uma puta. Melhor misturar com água da torneira essa noite.

Um comentário: